terça-feira, 29 de outubro de 2013

Emergências no consultório odontológico

Uma das grandes preocupações da maioria dos cirurgiões-dentistas, provavelmente, é ter de enfrentar emergências em seu consultório. O receio é intensificado quando o profissional não é preparado o suficiente para enfrentar tais situações com sucesso. Alguns podem dizem que a anamnese pode já detectar uma possível complicação, mas o cirurgião-dentista Ivan Haidamus Sodré Marques, autor de livros sobre emergências médicas e pacientes com doenças orgânicas, é enfático: “Imaginar que os pacientes possam conhecer sua saúde e através da anamnese transmiti-la ao cirurgião-dentista é um grande engano, pois a grande maioria da população não tem este conhecimento”.



Segundo Marques, o profissional não recebe das universidades o conhecimento necessário para poder diagnosticar as variáveis das doenças apresentadas pelo seu paciente. “Na verdade o ‘diagnosticar’ não é tratar das possíveis doenças que, eventualmente, seus pacientes possam apresentar, e sim se precaver para evitar iatrogenias e situações emergenciais”, diz. Para isso, o conhecimento deve ser adquirido em cursos fora da universidade, agregando valores ao cirurgião-dentista. “O conhecimento o deixa mais seguro e minimiza os riscos que podem levar a situações de emergências médicas e iatrogenias”, complementa.



“Alguns cursos são direcionados às emergências no consultório odontológico, no entanto, muito profissionais frequentam cursos ministrados por professores que não são da área e o curso torna-se prolixo, ou não irá de encontro às necessidades inerentes às emergências no consultório odontológico”, salienta o Dr. Ivan. “Por sinal o curso de emergências é obrigatório para cursos de especialização na Odontologia com carga horária de 15 horas”, acrescenta.



O professor acredita que todo paciente é um paciente de risco para o profissional que não está devidamente habilitado a resolver situações emergenciais, já que a anamnese não confere total segurança. “Ao submeter o paciente a anestesias locais, o cirurgião-dentista expõe seu paciente ao alérgeno contido no anestésico e, portanto, quanto mais o paciente é anestesiado, mais ele ficará exposto a este alérgeno”, lembra. Por este motivo, de acordo com ele, se o profissional não souber utilizar medicamentos para evitar reações anafiláticas, o risco será eminente a cada ato anestésico.



“Não consigo admitir a ideia de um cirurgião-dentista não possuir pelo menos um curso teórico-prático, como quer o Conselho Federal de Odontologia. O profissional não tem o direito de expor seus pacientes a situações inesperadas e nem provocar situações iatrogênicas, pois uma pessoa que confia sua vida a um profissional, merece ser tratada com dignidade, sensatez e responsabilidade. Espero que os leitores possam nos ajudar a conscientizar seus colegas de profissão nesta, que é uma luta de todos nós para o engrandecimento da nossa nobre profissão”, diz Marques.



Para elucidar ainda mais as emergências médicas no consultório odontológico, a ABO irá lançar em outubro o livro do Dr. Ivan Marques, “Socorro Básico de Emergência na Clínica Odontológica – Atendimento a pacientes com doenças orgânicas e em condições especiais”. “Gostaria de externar meus sinceros agradecimentos a esta instituição que se mostrou mais uma vez sensível às demandas dos profissionais cirurgiões dentistas”, afirma.







Primeiros procedimentos



As urgências e emergências médicas podem acontecer em qualquer lugar, no entanto, o consultório odontológico propicia situações inesperadas, “pois é um ambiente estressante e o profissional faz uso de fármacos que podem desencadear situações emergenciais”. Além do conhecimento, a serenidade do profissional também é um ingrediente indispensável, de acordo com o Dr. Ivan: “Caso seu paciente se sinta inseguro durante o episódio, com certeza o quadro se agravará”.



Nas situações em que o paciente encontra-se, aparentemente, desmaiado, geralmente, é o socorrista que se estressa, “a ponto muitas vezes de realizar procedimentos que poderiam levar a situações até irreversíveis”. O professor de emergências médicas lembra: “A arreatividade por parte da vítima não significa, necessariamente, que ela esteja morta”. E explica o procedimento correto: “O profissional deve determinar a presença de pulso carotídeo ou femoral e a observação da frequência respiratória através do movimento do tórax, promovido pelo diafragma, que é o principal músculo da respiração. Devemos também observar alterações pupilares”. Como observação, ele esclarece: “As pupilas não poderão se alterar durante o ato da anestesia, a menos que se faça uma injeção infraorbitária”.



Toda vítima de mal súbito deve ser investigada, posteriormente, pelo médico assistente. O cirurgião-dentista deverá prestar o socorro básico de emergência. “A princípio, logo no início do ocorrido e na maioria dos casos, deve-se flexionar a cabeça do paciente até os joelhos, para melhorar a irrigação sanguínea para o cérebro, monitorar pulso carotídeo e a respiração e observar alterações pupilares”, diz.



Em situações de emergências médicas, segundo o professor, não se deve sentir o pulso radial. “O pulso carotídeo é o que nos indica a irrigação sanguínea cerebral, pois a morte não é cardíaca, a morte é cerebral”, enfatiza, acrescentando que não devem ser usados espelhos bucais para verificação da respiração, prática comum entre os profissionais da Odontologia: “Paciente sem pulso carotídeo ou femoral e sem movimentos respiratórios encontram-se em PCR [parada cardiorrespiratória]”.



Porém, se o paciente é hipotenso ou é usuário crônico de beta-bloqueadores (remédios usados para a diminuição da contração do músculo cardíaco), deve haver uma atenção maior. Isso porque, de acordo com Marques, esse tipo de paciente possui pulso radial muito fraco. “Pode-se imaginar que a vítima esteja sem pulso e praticar de forma equivocada a massagem cardíaca, ato que poderia levar a consequências inesperadas, inclusive ao óbito. Não se faz compressões torácicas em pessoas com pulso e que estejam respirando”, alerta.







Parada cardiorrespiratória



“A PCR, fisiologicamente, é diferente nos pacientes adultos e nas crianças”, afirma o professor, que continua explicando: “Pacientes adultos e acima de 12 anos, que são considerados adultos nessas condições, geralmente, morrem em fibrilação ventricular, nestas condições o coração costuma ter uma frequência acima de 300 batimentos por minuto, inviabilizando a realização de suas funções fisiológicas. Portanto, deve-se acionar o socorro pedindo o desfibrilador [DEA] e, enquanto o socorro não chega, proceder a massagem cardíaca a tórax fechado, socorro básico de emergência”.



Quando uma criança respira com dificuldade, “ela usa a musculatura acessória da respiração, portanto, o ‘batimento da asa do nariz’ é um sinal indicativo que a criança poderá entrar em PCR”. Então, caso o cirurgião-dentista perceba que a criança apresenta esses sinais, deverá observá-la atentamente, sem demonstrar inquietação ou nervosismo. “Nesses casos, o profissional deverá suspender seus procedimentos e encaminhar o paciente ao hospital. Crianças, geralmente, entram em PCR quando apresentam doenças do aparelho respiratório, portanto, deverão ser inquiridas durante a anamnese e o exame físico. Caso ocorra a PCR, o profissional deve fazer as compressões torácicas, que, geralmente, é o suficiente para que volte às funções fisiológicas”, indica Marques.







Pacientes especiais



“Costumo dizer nos cursos que ministro, que todo paciente é especial, pois como as nossas digitais, não existe uma pessoa igual à outra”, inicia o Dr. Ivan. “Entretanto, pacientes que se apresentam com doenças orgânicas, como diabetes, hipertensão, cardiopatias, etc., deverão ser tratados de maneira a atender suas necessidades inerentes à sua entidade mórbida”, continua.



Os pacientes idosos também devem receber atenção antes de qualquer tratamento. “Nós somos um corpo que tem uma boca e não uma boca que tem um corpo, por isso, quando atendemos pacientes idosos, atendemos uma pessoa cuja fisiologia é totalmente diferente de uma pessoa que tenha menos de 60 ou 65 anos”, lembra. Ele enfatiza que os idosos deverão ser atendidos na presença de familiares ou cuidadores, e o cirurgião-dentista deve conhecer seu histórico de saúde – contado pelo idoso na presença da pessoa responsável. “Procure atendê-los, preferencialmente, à tarde quando forem hipertensos, cardiopatas, anginosos ou que possuam duas ou mais doenças. Os diabéticos deverão ser atendidos, se possível, no meio da manhã. Evite atendê-los no final da tarde”, sugere o professor.







Socorro médico



O Socorro Básico de Emergência é uma atitude que se deve ter com qualquer vítima antes da chegada do SAMU ou similar. “Quando iniciei minha residência no Hospital das Clínicas de São Paulo, o professor titular me alertou: ‘O importante é o que se faz no momento do episódio, pois as emergências, geralmente, são situações que se agravam a cada minuto, principalmente em PCR e AVC’”, lembra Marques. Portanto, após serem realizadas as primeiras manobras pelo profissional, deve-se acionar o auxílio médico. “Caso o cirurgião-dentista esteja acompanhado de assistente ou de outra pessoa no consultório, a chamada deverá ser realizada juntamente com a realização do socorro básico. A demora do resgate é sempre imprevisível, podendo demorar cinco minutos ou mesmo nem chegar. Eu já vivenciei esta situação. Mais uma vez, reitero que se deve conhecer o socorro básico para poder minimizar as possíveis sequelas”, ressalta.







Relação entre dentista e médico



O cirurgião-dentista atende todos os tipos de pacientes diariamente, portanto, segundo Marques, “muitas vezes precisa consultar o médico assistente ou mesmo a literatura específica, para poder receitar de forma correta e atender os pacientes em horários apropriados”, evitando, assim, iatrogenias e situações imprevistas. “Não é ‘feio’ consultar anotações ou livros durante uma consulta, desde que não esteja na presença do paciente. Em situações emergenciais, isso não é permitido, pois não se deve sair da presença da vítima até a completa resolução do caso”, lembra.



O professor não aceita a dissociação entre a Medicina e a Odontologia, embora ele admita que exista. “O cirurgião-dentista fica vulnerável a iatrogenias e emergências médicas, pois se o profissional não possui conhecimento médico, como poderá simplesmente através de perguntas conhecer seu paciente, baseado na premissa de que o próprio paciente não se conhece? Em um futuro próximo, poderá haver uma fusão natural entre as escolas médicas e odontológicas, como já existe em outros países”, acredita.



Enquanto a atual realidade separa as especialidades, ele sugere que o cirurgião-dentista tenha, sim, contato com o outro profissional de saúde para esclarecer dúvidas e entender mais seus pacientes. “Quando uma pessoa tem problemas cardíacos ela procura um cardiologista, caso a doença seja de ordem emocional, um psiquiatra ou psicólogo, e por aí vai. No entanto, o dentista atende todos esses pacientes, às vezes apenas em um dia de trabalho. Por este motivo, ele deverá ter conhecimento das diversas situações e também se aconselhar com colegas médicos, dentistas, psicólogos ou outros profissionais da área para poder realizar suas atribuições com destreza e segurança”, aconselha.







Kit de emergência



Todo consultório odontológico deve ter um Suporte de Atendimento Básico de Emergência (Sabe), segundo o Dr. Ivan, mas ainda são poucos os cirurgiões-dentistas que se propõem a adquirir o kit. “Deveria existir uma lei nesse sentido, pois o consultório muitas vezes se transforma em uma verdadeira sala cirúrgica. Não são raras as vezes em que sou convidado a participar de cirurgias em consultório para que possa levar meu ‘Sabe’ para eventuais intervenções”, conta. “Os equipamentos e drogas do kit são o mínimo necessário para se atender situações imprevistas, no entanto, só deverão ser usados por profissionais devidamente habilitados”, complementa.



Os equipamentos e fármacos necessários no consultório odontológico para o atendimento emergencial:



■Ambu.

■Estetoscópio e esfignomanômetro.

■Cilindro de oxigênio.

■Cânula de Guedel e de traqueotomia.

■Seringa de insulina.

■Bisturi e cabo de bisturi.

■Oxímetro.

■Adrenalina.

■Anti-histamínicos.

■Captopril 12,5 mg.

■Hidroclorotiazida 25 mg.

■Dramin B6.

■Soro fisiológico.

■AAS infantil.

■Isordil.

■Sachê de leite condensado ou glicose 50% (para casos de hipoglicemia).

Por: Dr. Ivan Haidamus Sodré Marques é cirurgião-dentista, autor de publicações sobre emergências médicas e doenças orgânicas e professor de cursos, como o “Emergências Médicas”, da Associação Brasileira de Odontologia (ABO). E-mail: profivanhaidamus@hotmail.com.





Fonte:http://www.odontomagazine.com.br/2013/10/28/emergencias-no-consultorio-odontologico/

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