quinta-feira, 19 de julho de 2012

Revisão sistemática da prevalência de perda dentária entre idosos residentes em áreas rurais no Brasil.


Revisão sistemática da prevalência de perda dentária entre idosos residentes em áreas rurais no Brasil.
Systematic revision of the prevalence of dental loss between aged residents in agricultural areas in Brazil.

Aníbal De Sá Guimarães RIBEIRO1
Luís Henrique Freitas FILHO2
Paulo Sávio Angeiras de GÓES3
1 Aluno da Graduação do Curso de Odontologia da Faculdade de odontologia de Pernambuco e bolsista de iniciação científica PIBIC/CNPq.
2 Aluno da Graduação do Curso de Odontologia da Faculdade de odontologia de Pernambuco e bolsista de iniciação científica PIBIC/CNPq.
3 Professor Adjunto do Departamento de Odontologia Social da Faculdade de Odontologia de Pernambuco. Doutor em Epidemiologia e Saúde Pública pela University College London-UK.

ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA DA INSTITUIÇÃO

Dr. Aníbal Ribeiro

Av. Eng. Domingos Ferreira, n 2215, Sl. 204, Boa Viagem, REcife-PE. Cep:52061-060



ENDEREÇO ELETRÔNICO
anibalribeiro@ortodontista.com.br





Revisão sistemática da prevalência de perda dentária entre idosos residentes em áreas rurais no Brasil.
Systematic revision of the prevalence of dental loss between aged residents in agricultural areas in Brazil.

RESUMO
Com o objetivo de fazer uma revisão sistemática das taxas de prevalência de perda dentária entre idosos residentes em áreas rurais no Brasil, foram pesquisados todos os artigos indexados nas bases de dados BBO, LILACS, MEDLINE e SCIELO do ano 2000 a 2006, lançando mão das palavras-chaves: perda dentaria, idosos, zona rural, prevalência e epidemiologia.  Foram encontrados, respectivamente, 16, 23, 34, 7 artigos, totalizando em 80.  Desse total, apenas 21 artigos foram selecionados e analisados quanto às desigualdades sociais, grau de escolaridade, residir na zona rural e acesso ao serviço, perda dentária e edentulismo e suas conseqüências, e CPOD, pondo em evidência o componente P (dentes perdidos). Quanto à zona rural, foram encontrados 6 artigos, dos quais apenas 1 foi de caráter quantitativo, o que denota a necessidade de estudos sobre perda dentária em idosos nesta região, visando ampliar o leque de políticas de saúde bucal e, assim, melhorar a qualidade de vida desse grupo populacional. 
PALAVRAS-CHAVES: perda dentaria, idosos, zona rural, prevalência e epidemiologia.
ABSTRACT
With the objective to make a systematic revision of the taxes of prevalence of dental loss between aged residents in agricultural areas in Brazil, the articles enclosed in the databases BBO had been searched all, LILACS, MEDLINE and SCIELO of year 2000 the 2006, launching hand of the word-keys: loss would teethe, aged, agricultural zone, prevalence and epidemiology. They had been found, respectively, 16, 23, 34, 7 articles, totalizing in 80. Of this total, but 21 articles had been selected and analyzed how much to the social inaqualities, study time, to inhabit in the agricultural zone and access to the service, dental loss and edentulism and its consequences, e CPOD, putting in evidence the component P (lost teeth). How much to the agricultural zone, 6 articles had been found, of which only 1 had been of quantitative character, what it denotes the necessity of studies on dental loss in aged in this region, aiming at to extend the fan of politics of buccal health e, thus, to improve the quality of life of this population group.
KEY-WORDS: loss would teethe, aged, agricultural zone, prevalence and epidemiology.


INTRODUÇÃO
A transição demográfica é um fenômeno mundial caracterizado, principalmente, pelo declínio da taxa de fecundidade, a diminuição da taxa de mortalidade nas idades avançadas e o aumento da expectativa de vida, tendo como conseqüência direta uma mudança na estrutura etária da população (envelhecimento). Este fenômeno já é observado há algum tempo nos países desenvolvidos, mas ocorre agora de um modo bastante acelerado nos países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, e, em menor proporção, nos subdesenvolvidos 1.
No Brasil, a perda do órgão dental relacionada à exodontias provocadas por doenças
evitáveis, entre elas, a cárie dentária e as doenças periodontais, é muito elevada. Dados epidemiológicos têm mostrado expressivo incremento das perdas com a idade2. Estima-se que 10% da população brasileira aos 34 anos de idade apresente ausência total de dentes. Aos 41 e 48 anos de idade, esse problema atinja, respectivamente, 20 e 30% dos brasileiros. A partir dessa idade, a proporção de edêntulos é cada vez maior e o colapso da dentição é mais intenso: 40% aos 53 anos, 50% aos 58 anos; 60% aos 63 anos; 70% aos 68 anos e 80% aos 70 anos de idade 3.
Apesar da reconhecida importância da saúde bucal, uma parcela considerável da população brasileira não têm acesso aos serviços de saúde. Esta situação é responsável não só pelos números desanimadores vistos no último levantamento epidemiológico nacional para algumas localidades2, mas por demonstrar que as dores de dente e a perda dentária estão presentes no cotidiano dos idosos brasileiros4.
Apesar da expansão recente dos serviços de saúde, é fato que, principalmente na região rural brasileira, a qualidade do cuidado à saúde bucal é problemática, pois a perda dentária estigmatiza a população pobre, reforçando as desigualdades entre as classes sociais5.
Há dificuldade de acesso ao serviço de saúde no meio rural, principalmente quando se trata de idosos, por incapacidade de locomoção. Como o serviço não é fixo, há muitas situações em que o atendimento no meio rural não existe. Neste momento a estabilidade desse grupo populacional é abalada e sua qualidade de vida também. Os itinerários terapêuticos incluem a procura pelo sindicato rural, faculdade de odontologia, serviços municipais de saúde e, em alguma vezes, o atendimento privado. Existe ainda muita cobrança com, relação à atenção secundária, como tratamentos endodôndicos, ortodontia e restaurações indiretas6.
No Brasil, estudos direcionados para os problemas bucais de idosos, principalmente residentes na zona rural brasileira são escassos, e a necessidade de tratamento especificamente para essa faixa etária está geralmente relacionada à perda dos dentes, conseqüência, na maioria das vezes vinda da cárie ou doença periodontal.
Em se desconhecendo as reais condições da saúde bucal de idosos residentes na zona rural brasileira, não tem havido uma adequada atenção à saúde bucal que abranja esse grupo populacional. Portanto, o objetivo desse trabalho é de fazer uma revisão sistemática das taxas de prevalência de perda dentária entre idosos residentes em áreas rurais no Brasil, para que, por intermédio do conhecimento destas condições, possam ser estabelecidas ações específicas direcionadas a estes grupos.
MÉTODOLOGIA
Este estudo teve como metodologia a busca ativa de artigos indexados nas bases de dados BBO, LILACS, MEDLINE e SCIELO. Buscou-se realizar a pesquisa bibliográfica sobre um tema central: prevalência de perda dentária entre idosos residentes em áreas rurais no Brasil.
Com a finalidade de delimitar o objeto de estudo e campo de investigação para a realidade que se pretende apreender, optou-se por selecionar apenas produções na forma de artigos publicados em periódicos nacionais, tendo considerado o ano 2000 como período de início para tal levantamento. Esta opção se faz devido ao fato de ter sido realizado, no dado ano, o Levantamento Epidemiológico das Condições de Saúde Bucal da População Brasileira (Projeto SB Brasil 2003). O Projeto SB Brasil 2003 visava a uma amostra representativa em nível macrorregional.
Os descritores de assuntos utilizados para a busca de artigos sobre “prevalência de perda dentária entre idosos residentes em áreas rurais no Brasil” foram: perda dentária, idosos, zona rural, prevalência e epidemiologia, utilizando a interseção dos conjuntos (descritores do assunto, tipo e ano de publicação).
A seleção baseou-se na conformidade dos limites dos assuntos aos objetivos deste trabalho, desconsiderando aqueles que, apesar de aparecerem no resultado da busca, não abordavam o assunto sob o ponto de vista quantitativo.
Os artigos selecionados foram caracterizados segundo autor/ano de publicação, revista escolhida para publicação, população/região, amostra total da população estudada, CPOD, percentual do componente P e percentual de edentulismo. 



RESULTADOS
Prevalência de Perda dentária
Ainda se tem poucos estudos que relatem sobre a prevalência de perda dentária entre idosos residentes em áreas rurais no Brasil18. Além disso, os trabalhos existentes são em sua maioria caracterizados por pesquisas qualitativas e, quando se trata de caráter quantitativo, apenas um dos artigos selecionados e analisados nesta revisão sistemática continha o valor da prevalência de perda dentária entre idosos na Zona Rural brasileira19. Mesmo assim, este artigo envolvia, concomitantemente, população da Zona Urbana, não havendo sequer um artigo que cedesse dados específicos na Zona rural.
Autor/Ano
Revista
População/
Região
(n)
CPOD
Componente (P)
Edentulismo
Silva et al (2004)18
Cad. Saúde Pública
Urbana
202
31,09
92,64%
74,25%
Collussi et al (2004)19
Rer. Bras. Epidemiol.
Urbano-Rural
277
28,9
92,1%
48,4%
Carneiro et al (2005)20
Cad. Saúde Pública
Urbana
293
30,8
96,3%
68,3%
Reis et al (2005)21
Rer. Bras. Epidemiol.
Urbana
289
30,17
95,38%
69,2%
Tabela I – análise da prevalência de perda dental nas populações urbano-rurais brasileiras considerando índice de CPOD evidenciando seu componente P (perdidos) e percentual de edentulismo.
O estudo do primeiro autor18 abrangeu uma amostra de 202 indivíduos, sendo 101 idosos (65 a 74 anos) e 101 adultos (35 a 44 anos). O percentual de edêntulos foi de 74,25% para idosos especificamente. O CPOD foi de 31,09 para essa faixa etária, onde o componente P (perdidos) foi o responsável pelo alto valor do índice CPOD e correspondeu a 92,64% para os idosos. A pesquisa é caracterizada por ser um estudo transversal e se deu no Município de Rio Claro (Zona Urbana), São Paulo.
O segundo estudo19 abrangeu uma amostra de 277 indivíduos residentes na área urbana e rural do Município de Biguacú, Santa Catarina. Foi encontrado um índice de CPOD médio de 28,9 com grande percentual de dentes extraídos (92,1%) e menor participação dos dentes cariados (5,5%) e obturados (2,4%). A prevalência de edentulismo na população foi de 48,4% da população, porém, ainda que tenha sido relativamente baixa em relação aos dados disponíveis nos outros estudos 18, 20, 21, o elevado índice de CPOD ainda evidencia as precárias condições de saúde bucal dos idosos que necessitam de programas assistenciais específicos para que, em breve, esse quadro epidemiológico se modifique positivamente. Mais ainda, a literatura científica carece de dados quantitativos inerentes e específicos à Zona Rural, já que este19 foi o único que denotou características quantitativas, mas, no entanto, sendo divididas com a Zona Urbana no Município.
O terceiro estudo20 abrangeu uma amostra de 297 indivíduos residentes na Zona Urbana da cidade de São Paulo, compreendendo idosos de 65-74 anos e 75 anos ou mais. O índice de CPOD foi de 30,8, com 96,3% de dentes perdidos. Esse percentual aumentou para 97% quando se tratava exclusivamente do sexo feminino. O percentual de edentulismo foi de 68,3%, caracterizando, em geral, condições clínicas insatisfatórias para esses indivíduos.
O quarto e último estudo21 abrangeu uma amostra de 289 indivíduos residentes nas instituições públicas filantrópicas de longa permanência da cidade de Goiânia-GO (Zona Urbana). A faixa etária variou de 60 a 103 anos. O CPOD médio foi de 30,17, havendo predomínio do componente P (perdidos) com 95,38%. A prevalência de edentulismo foi de 69,2%.

Razões para as perdas dentárias
As razões das perdas são afetadas por um número de fatores entre os quais as condições sociais desempenham um papel importante. A renda familiar avaliada em dado estudo15 mostrou significância estatística para uma cidade do Nordeste. Além disso, os pacientes que apresentavam nível educacional menor que o segundo grau tiveram mais dentes perdidos por cárie.
O aumento do número de idosos na população tem sido acompanhado pelo estigma da dependência, o que acarreta uma visão preconceituosa em relação aos indivíduos mais velhos. Estes podem ser vistos por alguns como fardo social e econômico, não só pelo seu afastamento do mercado de trabalho, mas pela prevalência aumentada de doenças crônicas e pelo risco maior de incapacidades16.
Valores médios de dentes perdidos são significativamente maiores (p<0,05) em pessoas com padrão sócio-econômico mais baixo e que moram em área rural13.
Um estudo comprovou que, entre idosos, a escolaridade média foi de 2,8 anos de estudo, compreendendo desde analfabetos a pessoas com 11 anos de estudo. No trabalho em questão a perda dentária é mais um agravante a comprometer uma condição biológica, a mastigação e que se encontra limitada socialmente pela baixa renda12.
Outro pesquisador constatou que as taxas de perda dentária cresciam à medida que as pessoas envelheciam, conforme cor da pele, localização da escola, número de habitantes por município e presença de água fluoretada. Ter mais de 40 anos de idade, morar em município com menos de 10 mil habitantes, aumentou o risco, respectivamente, em 1,7 e 1,8 vezes. Trabalhar em escola rural e morar em cidade sem flúor no núcleo urbano elevou a prevalência de perda dentária, respectivamente, em 42% e 25%. Apresentar cor negra como condição desfavorável de acesso às oportunidades a bens e serviços aumentou o risco em 22%3.
Residir na Zona Rural também parece ser fator agravante para a saúde bucal do idoso para o autor17: idosos residentes na Zona Rural parecem cuidar menos dos dentes com relação aos da Zona Urbana, tendo um percentual de 72,1% e 66,2% respectivamente; quanto às visita ao dentista, idosos da Zona Urbana também ficavam atrás com 46,9% contra 58,4% da Zona Urbana; Quanto ao edentulismo, idosos da Zona Rural Superavam o percentual de edêntulos da Zona Urbana em, respectivamente, 36,7% contra 28,2%.


DISCUSSÂO
Saúde Bucal de Idosos no Brasil: contexto geral
A transição demográfica é um fenômeno mundial caracterizado, principalmente, pelo declínio da taxa de fecundidade, a diminuição da taxa de mortalidade nas idades avançadas e o aumento da expectativa de vida, tendo como conseqüência direta uma mudança na estrutura etária da população (envelhecimento). Este fenômeno já é observado há algum tempo nos países desenvolvidos, mas ocorre agora de um modo bastante acelerado nos países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, e, em menor proporção, nos subdesenvolvidos 1.
No Brasil, a perda do órgão dental relacionada à exodontias provocadas por doenças
evitáveis, entre elas, a cárie dentária e as doenças periodontais, é muito elevada. Dados epidemiológicos têm mostrado expressivo incremento das perdas com a idade2. Estima-se que 10% da população brasileira aos 34 anos de idade apresente ausência total de dentes. Aos 41 e 48 anos de idade, esse problema atinja, respectivamente, 20 e 30% dos brasileiros. A partir dessa idade, a proporção de edêntulos é cada vez maior e o colapso da dentição é mais intenso: 40% aos 53 anos, 50% aos 58 anos; 60% aos 63 anos; 70% aos 68 anos e 80% aos 70 anos de idade 3.
Ainda quanto ao levantamento epidemiológico nacional em saúde bucal, com uma amostra de 5.349 idosos, constatou-se que o número de dentes perdidos, cariados e restaurados, verificados pelo índice CPOD, aumenta com a idade, passando de uma média de 20,1 na faixa etária de 35 a 44 anos para 27,8 na faixa etária de 65 a 74 anos. É importante evidenciar que o componente P (perdidos) foi responsável por 93% do CPOD nos idosos. Quanto ao acesso ao serviço odontológico, quase 70% dos idosos pesquisados não iam ao dentista há mais de três anos e 5,83% nunca foram atendidos. Quanto ao tipo de serviço utilizado, 40,5% relatam o serviço público e 40,26% o serviço privado liberal2.
Quanto aos fatores sociodemográficos, principalmente aspectos das relações sociais, são considerados importantes preditores de doenças bucais em idosos como a cárie radicular. A Odontologia deve atuar como um agente de integração na sociedade, influenciando o suporte social, na medida em que mantém a saúde bucal do idoso, possibilitando a este uma aparência agradável, melhor auto-estima, maior capacidade de fonação, além de contribuir para integração do idoso ao meio social1. Aliado a isso, pode-se destacar a variável escolaridade, a qual diz que, quanto maior o analfabetismo, consequentemente menor a renda, mais dentes cariados, menos dentes restaurados e maior o número de dentes perdidos3.
Quanto ao acesso ao serviço de saúde bucal, percebe-se que, para os idosos, há um conjunto de situações que impedem ou não facilitam sua adequação a esse benefício. Entre elas estão as dificuldades econômicas, culturais e sociais. Soma-se a isso, a necessidade de deslocamento e a ajuda de terceiros. Além disso, embora haja déficit de atendimento a idosos, muitos não buscam atendimento nos serviços prestados. Nesses locais, os idosos constituem um grupo de menor prioridade7.
Baseado nesse contexto vê-se uma maior necessidade de atenção à saúde bucal do idoso brasileiro a partir de seus predicados como desigualdades sociais, escolaridade, acesso ao serviço e, associado a isso, local onde vivem, Zona Rural brasileira, evidência ainda pouco estudada e que merece significatividade especial neste trabalho.

Saúde bucal de idosos residentes na Zona Rural brasileira
Distribuição da População Rural brasileira
No Brasil, parcela significativa da população rural vive nas zonas rurais dos pequenos municípios. Este fato é evidente no Nordeste, onde 40,3% da população rural se encontram nos municípios com até 20 mil habitantes (78,9%, no conjunto dos municípios com até 50 mil habitantes). Embora em proporções menores, o mesmo ocorre em São Paulo, onde 31,9% da população rural vive em municípios com até 20 mil habitantes (52,7% no conjunto dos municípios com até 50 mil habitantes). Apesar desta semelhança – seria necessário verificar este mesmo processo em outros Estados – observa-se que existem duas formas distintas de ocupação do espaço municipal. A população paulista dos pequenos municípios é minoritária, em relação ao conjunto do Estado – apenas 19,4% vivem nos municípios com até 50 mil habitantes (8,8% naqueles cuja população não ultrapassa os 20 mil habitantes). A l é m disso, ela se encontra sobretudo nas sedes municipais, sendo, portanto, segundo os critérios do IBGE, uma população urbana. De fato, da população dos municípios com até 20 mil habitantes apenas 25% vivem no meio rural, proporção que atinge 38,6%, e se considera o conjunto dos municípios com até 50 mil habitantes. Ao contrário do que acontece em São Paulo, na região nordestina os pequenos municípios abrigam a maioria da população da região. De fato, 50,6% dos nordestinos vivem em municípios com até 50 mil habitantes. Além disso, mais da metade da população destes municípios é constituída pela população rural: 57,7%, no caso dos municípios com até 20 mil habitantes e 51%, nos municípios entre 20 mil e 50 mil8.
A Contagem da População residente, por situação do domicílio e sexo, segundo as Grandes Regiões, Unidades da Federação e Regiões Metropolitanas efetuada pelo IBGE, em 2005, registrou um total de 184.388.620 habitantes para o território brasileiro, sendo desses, 152.711.363 (82,8%) residentes na Zona Urbana e 31.677.257 (17,2%) na Zona Rural. Quando distribuído entre Regiões, o percentual da população Rural brasileira foi dado da seguinte maneira: Região Norte – 11,9%, Região Nordeste – 47,16%, Região Sudeste – 20,27%, Região Sul – 14,9%, Região Centro-Oeste – 5,84%9. Desses dados conclui-se que a Região Nordeste possui o maior contingente de população rural do País.


Distribuição Urbano-Rural da População idosa brasileira
A distribuição urbano-rural da população de idosos insere-se no contexto do processo de crescente urbanização no Brasil. A proporção de idosos residentes nas áreas rurais passou de 23,3%, em 1991, para 18,6%, em 2000. O grau de urbanização da população idosa acompanhou a tendência da população total, ficando em torno de 81% em 2000. Na maior parte do mundo, a quantidade de pessoas idosas que vivem em áreas urbanas aumentou consideravelmente10.
Gráfico I - Distribuição percentual da população residente de
60 anos ou mais de idade, por situação do domicílio
Brasil - 1991/2000


Fatores que levam à perda dentária em idosos residentes na Zona Rural brasileira
Desigualdades sociais, Escolaridade e Acesso ao serviço de saúde bucal
Apesar da reconhecida importância da saúde bucal, uma parcela considerável da população brasileira não tem acesso aos serviços de saúde. Esta situação é responsável não só pelos números desanimadores vistos no último levantamento epidemiológico nacional para algumas localidades2, mas por demonstrar que as dores de dente e perdas dentárias estão presentes no cotidiano dos brasileiros4.
O acesso ao serviço bucal no meio rural é de uma problemática inestimável. Como o serviço não é fixo, há muitos momentos em que o atendimento no meio rural não existe. Os itinerários terapêuticos incluem a procura pelo sindicato rural, faculdade de odontologia, serviços municipais de saúde e, em alguns casos, o atendimento provado. Mais ainda, como os serviços municipais de saúde realizam procedimentos de atenção básica, existe uma cobrança por parte da população, principalmente idosa, em relação à atenção secundária como os tratamentos endodônticos, restaurações indiretas, pois na ausência dessas intervenções, a saída que resta é a exodontias para o alívio da sintomatologia da dor11.
As taxas de prevalência de perda dentária parecem aumentar em idosos, negros, e trabalhadores/residentes na Zona Rural, além de áreas que não possuem água fluoretada3.
A avaliação das representações sociais sobre saúde bucal entre populações rurais tem sido ainda mais escassa do que nas sociedades urbanas. É importante também avaliar se as sociedades rurais possuem representações sociais diferentes daquelas que se conhece em estudos já realizados no meio urbano. Essa lacuna do conhecimento pode dificultar a realização de um correto diagnóstico sobre “as visões do mundo” de grupos sociais que se destinam possíveis intervenções coletivas em saúde bucal11.
A perda dentária relaciona-se com componentes psíquicos e sociais importantes. A nossa sociedade atual “supervaloriza” a aparência em detrimento de outros valores. Assim, a perda de dentes torna as pessoas vulneráveis a sentimentos de inferioridade, rejeitadas e inseguras, impondo às pessoas uma situação social desfavorável. No meio rural verifica-se um confronto entre realidade vivida (pessoas perdendo dentes) e a realidade almejada (perda de dentes não está mais presente). Esse confronto pode ser um aspecto importante para que mudanças aconteçam11. 
A mutilação dentária resultante da perda dos dentes predispõe um estado de doença, pois assinala mudanças físicas, biológicas e emocionais. Os indivíduos desdentados e/ou portadores de prótese sentem-se em desvantagem em relação aqueles portadores de dentes naturais12.
Apesar da expansão recente dos serviços de saúde bucal em algumas regiões rurais brasileiras, a qualidade do cuidado à saúde bucal é problemática, pois a perda dentária estigmatiza a população pobre, reforçando as desigualdades entre as classes sociais13.
A dor de dente é vivenciada como dificuldade enfrentada pelas populações de renda e escolaridade baixas que não encontram nos serviços de saúde pública meios apropriados para o cuidado á saúde bucal14.


CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com o presente estudo, considerando todos os artigos selecionados e analisados, ainda se tem poucos trabalhos publicados que relatem sobre a prevalência de perda dentária entre idosos residentes em áreas rurais no Brasil. Além disso, as pesquisas existentes são em sua maioria de âmbito qualitativo e, obviamente, se faz imperativo o desenvolvimento de pesquisas de caráter quantitativo, a fim de que se possa intervir com mais eficiência sobre a saúde bucal de idosos residentes nesta região. 
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