Terezinha
Rezende CARVALHO de OLIVEIRA*
Maria Luiza Moreira Arantes FRIGERIO**
Maria Cecília Miluzzi YAMADA***
Esther Goldenberg BIRMAN****
Maria Luiza Moreira Arantes FRIGERIO**
Maria Cecília Miluzzi YAMADA***
Esther Goldenberg BIRMAN****
OLIVEIRA,
T. R. C.; FRIGERIO, M. L. M. A.; YAMADA, M. C. M.;
BIRMAN, E. G.
Como
publicado em: Pesqui Odontol Bras,
v. 14, n.3, p. 219-224, jul./set. 2000.
As
próteses muco-suportadas são consideradas
facilitadoras em potencial da estomatite protética
(EP), lesão comumente observada sob a base
das próteses, caracterizada por aspectos eritematosos
difusos ou pontilhados na mucosa de suporte. Sua etiologia
é controversa, podendo estar relacionada principalmente
a fatores locais. Diversos aspectos funcionais associam-se
a estes fatores representados pela oclusão,
dimensão vertical, retenção,
estabilidade dinâmica e estática além
de aspectos qualitativos relacionados às condições
encontradas no desdentado. Foram levados em considerações
o período de desdentado, número e tempo
de uso das próteses, uso contínuo, conservação,
presença de placa e higiene bucal. Os fatores
foram avaliados, visando esclarecer a possível
relação dos aspectos funcionais e protéticos
com a EP. Exame clínico foi realizado em 116
pacientes de ambos os sexos, desdentados bimaxilares,
utilizando as duas próteses muco-suportadas,
portadores ou não de estomatite protética
(EP). Os resultados indicaram que a maioria dos pacientes
examinados tinham EP frente ao menor número
de pacientes sem EP, havendo nos dois grupos equivalência
nos resultados da avaliação clínica
e protética. Os fatores funcionais e qualitativos
da próteses avaliados isoladamente não
puderam ser considerados responsáveis pela
ocorrência dessa patologia, constatando-se que
um único fator protético não
demonstrou, de per si, ser responsável pela
presença da EP, embora possa ser um facilitador
para o seu desenvolvimento.
UNITERMOS:
Prótese Total; Oclusão Dentária;
Retenção em Dentadura; Estomatite sob
Prótese.
Introdução
A prótese muco-suportada vem sendo utilizada há muitos anos, requerendo na sua confecção obediência criteriosa dos passos clínicos e laboratoriais para que possa se integrar, de forma harmoniosa, aos movimentos mandibulares, restabelecendo a fisionomia e preservando as estruturas ósseas remanescentes do paciente9,24 .
A prótese muco-suportada vem sendo utilizada há muitos anos, requerendo na sua confecção obediência criteriosa dos passos clínicos e laboratoriais para que possa se integrar, de forma harmoniosa, aos movimentos mandibulares, restabelecendo a fisionomia e preservando as estruturas ósseas remanescentes do paciente9,24 .
Os procedimentos de inclusão, preparo e polimerização
da resina devem ser realizados em seqüência,
obedecendo à orientação do fabricante
para a obtenção de melhores resultados.
Proporções inadequadas, quer seja do
monômero ou do polímero, assim como tempo
e temperatura inadequada durante o ciclo de polimerização
podem trazer alterações aos tecidos
de suporte da prótese total2,7,11.
Após a instalação das próteses
totais a orientação de uso, a higiene
e o acompanhamento periódico são necessários
para garantir as condições funcionais
sem trazer problemas para os tecidos de suporte. Diagnóstico
precoce de qualquer tipo de alteração
da mucosa contribui para manter condições
de higidez nos pacientes desdentados12.
Os portadores de próteses totais acreditam
que os desconfortos que elas proporcionam, em decorrência
do tempo, fazem parte do processo de adaptação,
uma vez que concebem a idéia de que esses aparelhos
substituem para sempre os dentes naturais.
Destacamos nesse estudo a estomatite protética
(EP), lesão da mucosa bucal relacionada ao
uso de próteses removíveis caracterizada
por eritema de variado grau e de etiologia bastante
discutida na literatura. Diversas terminologias foram
utilizadas, sendo o termo estomatite protética
aceito universalmente1,3,6,8,14.
Diante dessas observações e da possibilidade
das próteses totais muco-suportadas apresentarem
potencialidade para reações tissulares
na mucosa, propusemo-nos a avaliar pacientes desdentados
totais bimaxilares portadores de próteses muco-suportadas,
com presença ou não de EP. Fatores funcionais
de oclusão, dimensão vertical de oclusão
(DVO), retenção e estabilidade dinâmica
e estática, bem como os aspectos qualitativos
referentes à higienização da
prótese e da boca, uso contínuo, conservação,
idade da prótese, número de prótese
total utilizada e tempo de totalmente edentado foram
estudados, visando esclarecer as suas prováveis
influências na ocorrência da estomatite
protética.
Casuística
– Material e métodos
Foram avaliados 116 pacientes desdentados totais bimaxilares, portadores de prótese total muco-suportada superior e inferior, com presença ou não de estomatite protética. O protocolo foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FOUSP).
Foram avaliados 116 pacientes desdentados totais bimaxilares, portadores de prótese total muco-suportada superior e inferior, com presença ou não de estomatite protética. O protocolo foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FOUSP).
Exame
do paciente
Foi investigado o tempo de desdentado maxilar, número de próteses totais utilizadas, idade da prótese, uso contínuo e higienização da boca. O estado da mucosa do palato foi avaliado pela inspeção da área de suporte da prótese total e suas características clínicas com vistas às lesões de estomatite protética (EP) (Figuras 1,2 e 3).
Foi investigado o tempo de desdentado maxilar, número de próteses totais utilizadas, idade da prótese, uso contínuo e higienização da boca. O estado da mucosa do palato foi avaliado pela inspeção da área de suporte da prótese total e suas características clínicas com vistas às lesões de estomatite protética (EP) (Figuras 1,2 e 3).
FIGURAS 1 e 2 - Aspecto eritematoso apresentando variáveis extensões na mucosa palatina.
FIGURA 3 - Área papilomatosa na região palatina anterior apresentando intensa coloração eritematosa difusas e aspecto pontilhado na região posterior.
A
retenção e a estabilidade dinâmica
foram consideradas satisfatórias quando não
havia queixa de deslocamento da prótese durante
as funções de mastigação,
fala, deglutição, respiração,
sorriso ou mesmo em repouso. A retenção
e a estabilidade estática foram avaliadas,
estando o paciente em posição de repouso,
utilizando o dedo indicador para análise da
tração vertical e horizontal nos incisivos,
tração lateral para vestibular e pressão
leve na prótese total superior contra os tecidos
de suporte na região dos pré-molares
dos dois lados, alternativamente. Estes fatores eram
considerados satisfatórios na ausência
de deslocamento e/ou movimento de báscula da
prótese total.
A avaliação da DVO foi realizada, utilizando-se
a associação dos métodos estético,
métrico e fonético. No método
estético, as referências para considerar
a DVO satisfatória foram: a conformação
do sulco nasolabial, a harmonia do terço inferior
da face com as demais partes do rosto e a plenitude
facial condizente com a idade do paciente. No método
métrico, foi utilizado o compasso de Willis
para obter a dimensão vertical de repouso (DVR)
e a DVO ao mesmo tempo. A DVR foi obtida com o paciente
em repouso, medindo a distância da base do nariz
ao bordo inferior da mandíbula, com a haste
vertical do compasso de Willis encostada no mento,
a haste horizontal superior encostada na base do nariz
e a haste horizontal inferior tocando o bordo inferior
do mento. Com o compasso ainda posicionado, o paciente
foi solicitado para ocluir, e a medida obtida nessa
posição correspondeu à dimensão
vertical de oclusão. A diferença entre
a DVO e DVR correspondeu ao espaço funcional
livre (EFL), considerado normal o mínimo de
3,0 mm. No teste fonético, foi preconizada
a pronúncia de fonemas sibilantes com o objetivo
de observar o espaço funcional de pronúncia
(EFP), sendo considerado DVO normal quando um espaço,
mínimo, de 0.5 a 1,0 mm fosse obtido. Situações
diferentes, a DVO foi considerada insatisfatória
(Figuras 4 e 5). Para a oclusão, foram avaliados
os movimentos mandibulares de abertura e fechamento,
lateralidade para ambos os lados e protrusão
numa magnitude de 5,0mm. O tipo de oclusão
considerado satisfatório foi a balanceada bilateral,
sendo insatisfatórias outras situações
de relacionamento3 (Figura 6).
FIGURA 4 -Dimensão vertical insatisfatória.
FIGURA 5 – Estética facial comprometida.
FIGURA 6 - Oclusão insatisfatória na posição de fecha-mento mandibular.
Exame
da prótese total superior
Um exame visual e tátil foi realizado nas próteses totais para avaliar o estado de conservação e higienização.
Um exame visual e tátil foi realizado nas próteses totais para avaliar o estado de conservação e higienização.
O estado de conservação da prótese
superior foi considerado insatisfatório quando
esta apresentava perda e/ou fratura de dentes, fraturas
da base com perda de fragmentos, reembasamentos inadequados,
consertos, trincas e porosidades na resina, detectadas
clinicamente. A higienização foi avaliada
frente a presença ou não de “placa
de dentadura” (bacteriana) em qualquer área
da prótese.
A análise estatística dos resultados
foi realizada através do teste “Qui-quadrado”,
não-paramétrico, nível de significância
de 0,05 adequado a amostras independentes quando apresentados
os seus valores em escala nominal, sendo utilizado
o teste “Exato de Fisher” frente às
baixas freqüências.
Resultados
e discussão
Os resultados (Tabela 1) indicaram que a maioria dos pacientes examinados tinha estomatite protética de aspecto clínico pontilhado vermelho localizada em uma área determinada da mucosa palatina e com menor freqüência, apresentando os aspectos eritematosos uniformes difusos e hiperplasias papilomatosas. Não foi possível relacionar essas lesões a um fator causal, uma vez que constatamos estatisticamente que um só fator não foi significativo para a ocorrência dessa alteração. Esse resultado diverge daquele relatado por Jeganathan & Lin13 (1992) que relacionaram essa patologia às condições insatisfatórias das próteses totais. Houve uma equivalência nos resultados da avaliação clínica e protética nos dois grupos estudados, indicando que os fatores funcionais de oclusão, DVO, retenção e estabilidade dinâmica e estática, bem como os fatores qualitativos referentes ao tempo de edentulismo, número e tempo de uso das próteses, idade, conservação, uso contínuo, presença de placa de dentadura e higienização da boca, avaliados isoladamente não apresentaram uma relação direta com a ocorrência da EP.
Os resultados (Tabela 1) indicaram que a maioria dos pacientes examinados tinha estomatite protética de aspecto clínico pontilhado vermelho localizada em uma área determinada da mucosa palatina e com menor freqüência, apresentando os aspectos eritematosos uniformes difusos e hiperplasias papilomatosas. Não foi possível relacionar essas lesões a um fator causal, uma vez que constatamos estatisticamente que um só fator não foi significativo para a ocorrência dessa alteração. Esse resultado diverge daquele relatado por Jeganathan & Lin13 (1992) que relacionaram essa patologia às condições insatisfatórias das próteses totais. Houve uma equivalência nos resultados da avaliação clínica e protética nos dois grupos estudados, indicando que os fatores funcionais de oclusão, DVO, retenção e estabilidade dinâmica e estática, bem como os fatores qualitativos referentes ao tempo de edentulismo, número e tempo de uso das próteses, idade, conservação, uso contínuo, presença de placa de dentadura e higienização da boca, avaliados isoladamente não apresentaram uma relação direta com a ocorrência da EP.
Tanto o grupo com EP como o sem, apresentaram um maior
número de pacientes desdentados num período
de 20 anos ou mais; suas próteses totais tinham
muitos anos de uso, foram substituídas mais
de uma vez e ainda eram usadas à noite. Acreditamos
ser prioritária a qualidade da prótese
no que se refere à função, características
da superfície interna e manutenção
à sua freqüente substituição.
Concordamos que a prática de somente renovar
próteses totais não tenha um efeito
terapêutico direto na EP, havendo necessidade
de avaliar também outros fatores como presença
de leveduras e condições gerais do paciente
que podem facilitar a ocorrência dessa patologia3,18.
A combinação não só de
C. albicans mas também de bactérias
como fatores etiológicos da estomatite protética,
foi destacado por Kulak et al.15 (1997).
TABELA 1 - Valores obtidos da análise
dos fatores relacionados à presença
ou não de estomatite protética em pacientes
portadores de prótese total (PT).
Estomatite
Protética
|
|||
FATORES |
+
N=87 |
-
N=29 |
Resultado
do teste X2 e Exato de Fisher
|
Estado
de conservação da PT
|
|||
Satisfatório |
23
|
10
|
-
|
Insatisfatório |
64
|
19
|
X2=0,35;gl=1;p>0,05
|
Higienização
da PT
|
|||
Sem placa de dentadura |
7
|
1
|
Fisher=35,87%;gl=1
|
Com placa de dentadura |
80
|
28
|
p>0,05
|
Uso
noturno
|
|||
Sim |
81
|
23
|
Fisher=99%;gl=1;p>0,05
|
Não |
6
|
6
|
-
|
Retenção
e estabilidade dinâmica
|
|||
Satisfatório |
61
|
17
|
X2=0,83;gl=1;p>0,05
|
Insatisfatório |
26
|
12
|
-
|
Retenção
e estabilidade estática
|
|||
Satisfatório |
23
|
7
|
X2=0,00;gl=1;p>0,05
|
Insatisfatório |
64
|
22
|
-
|
Dimensão
Vertical de Oclusão
|
|||
Satisfatório |
6
|
6
|
Fisher=99%;gl=1;p>0,05
|
Insatisfatório |
81
|
23
|
-
|
Oclusão
|
|||
Satisfatório |
8
|
3
|
Fisher=71,98%;gl=1
|
Insatisfatório |
79
|
26
|
p>0,05
|
O
material da base da prótese tem sido considerado
um agente desencadeador de reações tóxico-químicas
na mucosa bucal pela liberação de monômero
residual. Os estudos de Nyquist19 (1964), Sadamori
et al.21 (1992), Smith & Bains22 (1955) e Strain23
(1967) mostraram que a quantidade de monômero
residual contido na base da prótese total,
confeccionada com resina acrílica ativada termicamente
(RAAT) é maior logo após a polimerização,
diminuindo com o período de uso. Concordamos
com esses estudos, uma vez que as próteses
dos pacientes com ou sem EP eram antigas, não
sendo, portanto, o monômero residual um fator
capaz de desencadear reações na mucosa.
A associação dos vários fatores
funcionais e qualitativos por nós avaliados
podem contribuir para a alteração da
mucosa como foi sugerido em outros estudos, como o
de Bergman et al.4 (1971) e MacEntee et al.17 (1998).
Consideramos que a baixa resistência das defesas
orgânicas altera o ambiente bucal, influenciando
a resposta e a resistência desses tecidos diante
da presença de próteses totais. Ainda,
a nosso ver, essas condições devem ser
bem avaliadas para orientar o paciente quanto ao uso
e cuidado de suas próteses totais3,8,10,20.
Observamos, após a instalação
de novas próteses totais, a dificuldade dos
pacientes na fala, mastigação, deglutição,
postura e sorriso em virtude da retenção
dinâmica. O processo de adaptação
do paciente às suas próteses é
compensado em função do controle neuromuscular
associado à vontade de manter o seu bem estar
físico e social. Assim, observamos que a retenção
dinâmica, inicialmente menor, aumenta após
o período de adaptação, enquanto
a retenção estática apresenta
uma ação contrário. O exame semestral
torna-se necessário para avaliação
das mesmas e da cavidade bucal como prevenção
e controle dos fatores locais11,16.
Concordamos também com outros estudos que a
etiologia da EP possa ter uma base multifatorial,
uma vez que ao se analisar, isoladamente fatores funcionais
e qualitativos das próteses totais, estes foram
insignificantes para a ocorrência dessa patologia1,3,20.
Apesar da diminuição atual de desdentados,
ainda há uma grande demanda à reabilitação
bucal por prótese total5. Apoiamo-nos nas observações
de Zwetchkenbaum & Shay25 (1997) que, mesmo com
o aumento da expectativa de vida, futuramente a necessidade
de próteses muco-suportadas persistirá
ainda por muitos anos em virtude das limitações
impostas pelas condições de saúde
e até mesmo econômicas dos nossos pacientes,
esperando-se que a EP possa ser melhor esclarecida
e resolvida.
Conclusão
Podemos concluir, frente aos nossos resultados, que os fatores funcionais e qualitativos das próteses totais estudados apresentaram uma tendência para a ocorrência da EP, embora não tenham sido estatisticamente significantes. Esses mesmos fatores, avaliados isoladamente, não puderam ser responsáveis pelas alterações da mucosa de suporte.
Podemos concluir, frente aos nossos resultados, que os fatores funcionais e qualitativos das próteses totais estudados apresentaram uma tendência para a ocorrência da EP, embora não tenham sido estatisticamente significantes. Esses mesmos fatores, avaliados isoladamente, não puderam ser responsáveis pelas alterações da mucosa de suporte.
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