Há tempos, os infectologistas alertam sobre o perigo do uso
indiscriminado de antibióticos e da automedicação na saúde brasileira.
Tal risco se dá pela resistência múltipla dos microorganismos,
principalmente das bactérias, aos diversos tipos de antibióticos
utilizados de forma irresponsável, ao longo da vida, pela população que,
desconhecem e ignoram uma série de fatores envolvidos na adequada
terapia antimicrobiana. De fato, ao iniciar o combate contra as
bactérias fazendo o uso de antibióticos e com o desaparecimento da
sintomatologia, os usuários - que na maioria das vezes não provém de
orientação médica - abandonam o tratamento e "vacinam" essas bactérias
contra este tipo de medicamento inicialmente utilizado, tornando-as
resistentes.
No entanto, não podemos, em hipótese alguma, descentralizar a
responsabilidade governamental e colocar a culpa nas pessoas que
utilizam indiscriminadamente estes remédios. Até porque é evidente a
dificuldade encontrada pelos usuários do SUS para conseguir marcar uma
consulta médica.
Recentemente, foi pronunciado pelo atual Ministro da Saúde, José
Gomes Temporão, uma vigilância mais rigorosa da ANVISA (Agência Nacional
de Vigilância Sanitária) nas farmácias brasileiras, restringindo o uso
de antibióticos sem prescrição médica, no intuito de dificultar o acesso
da população. Deve-se destacar que, infelizmente, esta medida teve
caráter corretivo. Foi consequência da superbactéria KPC, revelada ao
Brasil pelos numerosos casos de infecção hospitalar, principalmente no
Distrito Federal, com quadros complicados, que lamentavelmente teve como
desfecho o óbito. Porém, esta medida já devia ter sido tomada há vários
anos, desde quando foi alertado aos órgãos públicos sobre os riscos que
o uso de medicamentos sem prescrição médica poderia causar.
Desde então, nada foi feito para erradicar o uso irracional da
antibioticoterapia dos brasileiros. Ao contrário: a esfera governamental
preocupou-se em formar mais profissionais na área da saúde, que não
deixa de ser algo louvável, porém, "lotar" o país com esta mão de obra
qualificada e não criar uma ampla rede de instituições de saúde, bem
como programas sociais neste mesmo âmbito, acarreta um prejuízo geral.
A grande dúvida agora é: o SUS terá condições de cuidar de todos
os usuários que necessitam de atendimento médico, para prescrevê-los
devidamente?
Ao grosso modo, a saúde pública do Brasil, precisa
emergencialmente de uma reforma política, e para isso necessita dos
inúmeros profissionais de saúde que existem neste país, cujos já há
algum tempo, foram abandonados pelos "olhos" do governo, estando,
desvalorizados, desempregados e desmotivados a seguirem suas carreiras
profissionais pela falta de incentivo político.
Fonte: O globo
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