terça-feira, 2 de novembro de 2010

Uso indiscriminado de antibióticos

Há tempos, os infectologistas alertam sobre o perigo do uso indiscriminado de antibióticos e da automedicação na saúde brasileira. Tal risco se dá pela resistência múltipla dos microorganismos, principalmente das bactérias, aos diversos tipos de antibióticos utilizados de forma irresponsável, ao longo da vida, pela população que, desconhecem e ignoram uma série de fatores envolvidos na adequada terapia antimicrobiana. De fato, ao iniciar o combate contra as bactérias fazendo o uso de antibióticos e com o desaparecimento da sintomatologia, os usuários - que na maioria das vezes não provém de orientação médica - abandonam o tratamento e "vacinam" essas bactérias contra este tipo de medicamento inicialmente utilizado, tornando-as resistentes.

No entanto, não podemos, em hipótese alguma, descentralizar a responsabilidade governamental e colocar a culpa nas pessoas que utilizam indiscriminadamente estes remédios. Até porque é evidente a dificuldade encontrada pelos usuários do SUS para conseguir marcar uma consulta médica.
Recentemente, foi pronunciado pelo atual Ministro da Saúde, José Gomes Temporão, uma vigilância mais rigorosa da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) nas farmácias brasileiras, restringindo o uso de antibióticos sem prescrição médica, no intuito de dificultar o acesso da população. Deve-se destacar que, infelizmente, esta medida teve caráter corretivo. Foi consequência da superbactéria KPC, revelada ao Brasil pelos numerosos casos de infecção hospitalar, principalmente no Distrito Federal, com quadros complicados, que lamentavelmente teve como desfecho o óbito. Porém, esta medida já devia ter sido tomada há vários anos, desde quando foi alertado aos órgãos públicos sobre os riscos que o uso de medicamentos sem prescrição médica poderia causar.
Desde então, nada foi feito para erradicar o uso irracional da antibioticoterapia dos brasileiros. Ao contrário: a esfera governamental preocupou-se em formar mais profissionais na área da saúde, que não deixa de ser algo louvável, porém, "lotar" o país com esta mão de obra qualificada e não criar uma ampla rede de instituições de saúde, bem como programas sociais neste mesmo âmbito, acarreta um prejuízo geral.
A grande dúvida agora é: o SUS terá condições de cuidar de todos os usuários que necessitam de atendimento médico, para prescrevê-los devidamente?
Ao grosso modo, a saúde pública do Brasil, precisa emergencialmente de uma reforma política, e para isso necessita dos inúmeros profissionais de saúde que existem neste país, cujos já há algum tempo, foram abandonados pelos "olhos" do governo, estando, desvalorizados, desempregados e desmotivados a seguirem suas carreiras profissionais pela falta de incentivo político. 

Fonte: O globo

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