A Ortodontia é resultado de
anos de estudo, pesquisa, experimentos, acertos e erros de clínicos e
pesquisadores que, com seu esforço, idealizaram, criaram, modificaram
artifícios e maneiras de conduzir os dentes a posições mais adequadas
funcionalmente e agradáveis esteticamente. O ponto inicial para a elaboração de
um conceito antigo de se fazer Ortodontia, e que perdura até hoje (um fio retangular
preenchendo total ou parcialmente o interior também retangular de um braquete),
partiu de Edward Hartley Angle por volta de 1925. Desde então, baseadas no
mesmo princípio, modificações foram sendo feitas por outros estudiosos com o
objetivo de sobrepujar as limitações inerentes do sistema.
No panorama atual, o clínico
se depara com diferenciadas filosofias, ou maneiras de abordar o planejamento
do tratamento, com diversas opções mecânicas para a realização de determinados
movimentos dentários, e com uma variada quantidade de modelos de braquetes e de
prescrições para o posicionamento dentário, havendo hoje a possibilidade de se
poder optar por um tipo ou outro de aparelho a ser aplicado no caso, dependendo
das suas necessidades
Como especialidade, a
Ortodontia deve muito a Edward Hartley Angle. Formado em 1878, Angle
dedicou-se, intensamente, ao estudo da movimentação dentária. Ele acreditava
que a Ortodontia deveria ser transformada em especialidade e que ela deveria
ser ensinada em escolas específicas e, naquela época, afirmava ser possível um
profissional viver bem e sustentar sua família apenas praticando a Ortodontia.
Angle era um clínico habilidoso e detentor de uma mente criativa. Criou uma
classificação para as más oclusões baseada no posicionamento mésio-distal dos
primeiros molares superiores e inferiores (classificação esta usada ainda
hoje). Ao anunciar pela primeira vez sua classificação deparou-se com ironias e
desprezos, mas decidiu assumir a tarefa de tornar suas teorias reconhecidas
profissionalmente e passou a ensiná-las em sua própria escola. Dessa maneira,
em 1900, foi fundada em Saint Louis, EUA, a escola Angle de Ortodontia, de onde
saíram grandes nomes da Ortodontia contemporânea, como Tweed, Begg, Steiner.
Nesta mesma época, seu livro “Sistema Angle de normalização e contenção dos
dentes e tratamento das fraturas dos maxilares” era muito procurado e já estava
na sua quinta edição.
Angle seguia uma filosofia
de caráter preservacionista, acreditando que “o melhor equilíbrio, a melhor
harmonia, as melhores proporções na boca nas suas múltiplas relações requeriam
a presença de todos os dentes e que cada dente ocupasse a sua posição normal”,
segundo suas próprias palavras. Angle, dessa maneira, conduzia seus tratamentos
e ensinamentos apoiado numa técnica expansionista, pois ele acreditava que uma
oclusão normal e funcional só seria possível com todos os dentes presentes na
boca. Alguns de seus alunos aprenderam e continuaram praticando a filosofia
expansionista preconizada por seu professor, outros não.
Um de seus alunos, Tweed,
inicialmente com uma prática clínica fiel aos preceitos não extracionistas de
Angle, observou que os resultados obtidos estavam deixando muito a desejar,
sendo que o índice de recidivas no pós-tratamento era muito alto, então, após
alguns anos, decidiu começar a tratar alguns dos seus pacientes desprendendo-se
completamente do compromisso de manter todos os dentes na boca, como pregava seu
mestre.
Angle inventou e patenteou
inúmeros dispositivos para terapia ortodôntica. Em 1890, construiu uma aparelho
ortodôntico que denominou de arco E, para normalizar o arco dentário. O Arco E consistia
de um arco vestibular pesado de expansão unido por soldas a duas bandas
parafusadas nos dois primeiros molares. Ele fazia uso de ancoragem simples e
realizava movimentos de coroa dos dentes. Amarrilhos de latão das coroas até o
arco pesado eram usados para conduzir os dentes até a oclusão. Tal aparelho era
vendido montado em cartões, deste modo, o dentista, por soldagens simples,
instalava-o no paciente. Angle foi muito criticado por isso, principalmente
pelo Dr. Calvin Case, professor e pesquisador da Ortodontia, que acreditava que
os aparelhos deveriam ser feitos pelo ortodontista. Na filosofia Edgewise, os
braquetes não possuem angulações e inclinações predefinidas, e o Ortodontista
deve ser bem treinado para manejar bem o fio ortodôntico, afim de proporcionar
essas medidas de acordo com a necessidade da oclusão do seu paciente.
Andrews
introduziu na Ortodontia a técnica “straight-wire”, também chamada de técnica
do fio reto (T.F.R.). No aparelho “straight-wire”, o bráquete é individualizado
para cada dente, possui ranhuras pré-anguladas que forneceram a inclinação
mesio-distal do dente e na base inclinada o bráquete apresenta o torque ideal
para cada grupo de dentes, possui um formato na base para uma ótima adaptação
no dente, a espessura do aparelho individualizado para cada dente satisfaz a
exigência “in-out”.
Hoje
existem tantas outras prescrições, entretanto, é importante ter em mente que os
preceitos da Técnica de Edgewise nunca deixará de existir, tão pouco de ser
aplicada no dia a dia clínico, visto que, mesmo com todas as medida
pre-inseridas nos braquetes, dificilmente existe alguma finalização de
tratamento ortodôntico sem que haja necessidade de dobras nos fios para
melhorar o chaveamento, proporcionar melhor harmonia oclusal e, finalmente, estabilidade
final. Portanto, a Técnica Edgewise, jamais será “coisa do passado”, mas sim,
instrumento imprescindível para uma finalização com excelência.
Dr. Aníbal
Ribeiro.
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