Dr.
Aníbal Ribeiro
Pós-Graduado
em Cirurgia
Periodontal
A inter-relação entre a Periodontia e a
Odontologia Restauradora é um dos temas mais discutidos na Odontologia atual. A
necessidade da devolução de tecidos perdidos e a restauração da função, sem que
ocorra uma modificação dos tecidos periodontais, é um dos dilemas mais comuns
na clínica diária. Nesse contexto, um dos assuntos de maior impacto no
cotidiano dos cirurgiões-dentistas é a invasão do espaço biológico.
Você já precisou fazer a popular “retirada de
excesso da gengiva” ou “cirurgia da gengiva” previamente a um procedimento
restaurador ou protético? Seu Dentista passou-lhe todas as informações necessárias
desde conceitos, objetivos e resultados deste tipo de procedimento?
Neste texto traremos uma discussão importante
sobre o Espaço Biológico e sua relação com a Odontologia Restauradora, para que
assim possamos elucidar pacientes e profissionais quanto as suas principais
dúvidas.
Mas
afinal, o que é o Espaço Biológico?
Em 1959, Sicher descreveu uma união
dentogengival constituída por uma inserção epitelial e por uma inserção
conjuntiva. Gargiulo et al. (1961) avaliaram as medidas da
junção dentogengival, considerando as fases da erupção e as faces do dente,
obtendo as seguintes médias: profundidade do sulco gengival – 0,69 mm , comprimento do
epitélio juncional – 0,97 mm
e comprimento da inserção conjuntiva – 1,07 mm . Dessas distâncias, a inserção
conjuntiva foi a que se apresentou mais constante, enquanto que a parte mais
variável foi o comprimento do epitélio juncional. Portanto, o espaço localizado
coronariamente à crista óssea alveolar pode ser arredondado para
aproximadamente 3 mm .
No entanto esta medida pode variar de dente para dente e nas diferentes faces
de um mesmo dente, estando presente em toda dentição saudável. Numa definição
mais generalizada, o espaço biológico do periodonto é a
distância compreendida entre a base do sulco histológico e a crista óssea
alveolar; ou ainda o
espaço biológico compreende a distância entre a crista óssea alveolar à borda
da gengiva marginal livre.
Geralmente quando a cárie situada em seu
dente invade o espaço biológico, e a violação desse espaço pode resultar em inflamação crônica
progressiva, formação de bolsa, perda de inserção que, se não controlada, pode
levar a perda do elemento dentário.
As razões para o acontecimento deste fato são duas: primeiro, que as
estruturas biológicas do epitélio juncional e o ligamento periodontal
supra-crestal são mecanicamente invadidas por um material restaurador, que por
mais polido, liso e bem acabado que seja, sempre é diferente da estrutura
dental sadia; em segundo lugar, o epitélio, sob forma nenhuma, consegue
aderir-se sobre a superfície bacteriana, e a colocação da margem que invade o
espaço biológico mostra sempre a possibilidade que fique uma "porta
aberta" ao acúmulo de microorganismos.
Quando o espaço biológico do periodonto é invadido (violado), uma
reação inflamatória normalmente ocorre, podendo induzir reabsorção óssea
alveolar para providenciar espaço para novos tecidos de conexão, bem como levar
a um aprofundamento do sulco gengival. Este restabelecimento da inserção
periodontal em uma posição mais apical e o sulco aprofundado combinado com uma
restauração marginal, freqüentemente, leva a uma inflamação crônica e um
colapso periodontal localizado. Dessa forma, o objetivo do ato cirúrgico de
aumento de coroa clínica, para fins restauradores, é que exista entre a crista
óssea alveolar e a margem da restauração no mínimo 3mm de estrutura dental
sadia para a inserção conjuntiva e epitélio juncional.
Várias pesquisas têm demonstrado que mesmo uma restauração com margem
bem adaptada pode levar a uma resposta patológica se a porção apical da margem
é colocada dentro do sulco gengival. (LUNDERGAN,W. & HUGHES,W.)
demonstraram que a margem cervical de restaurações colocadas próximas ao
epitélio juncional aumenta a severidade da inflamação gengival. Em relação a
desadaptações, DAUDT et al., verificaram que a presença de periodontopatógenos
detectados pelo teste enzimático BANA é significativamente maior quando da
presença de restaurações subgengivais mal adaptadas.
A colocação de restaurações subgengivais inadequadas propicia um
ambiente favorável à retenção de placa ao mesmo tempo que dificulta sua
remoção. A permanência desta suscita uma resposta inflamatória gengival crônica
atribuída à violação mecânica do espaço biológico ou à retenção de placa na
interface dente/restauração, além de sensibilidade gengival a estímulos
mecânicos, recessão e formação de bolsa . A invasão desse pode ser prevenida
fazendo-se o diagnóstico precoce e pronto tratamento da cárie, e evitando-se a
colocação de margens subgengivais. Desta forma, um adequado plano de tratamento
faz-se necessário utilizando-se de todos os recursos de diagnóstico, dentre os
quais destaca-se o exame radiográfico.
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