domingo, 24 de abril de 2011

Lesões cervicais e hipersensibilidade dentinária

por Dra. Tainara Karina Schneider



A hipersensibilidade dentinária em dentes com lesões cervicais é um problema constante e crescente na clínica odontológica.

A perda de estrutura dentinária na região cervical pode se dar por um processo de cárie, por abrasão, por erosão, por abfração ou pela associação de dois ou mais fatores.

A abrasão consiste na perda de substância dentária por desgaste, o que pode ocorrer por uma escovação exagerada na horizontal, com dentifrícios muito abrasivos e quando existe uma exposição radicular prévia. Outro mecanismo que pode provocar o desgaste das regiões cervicais dos dentes é a raspagem e curetagem durante o tratamento periodontal. A abrasão caracteriza-se por uma superfície dura, altamente polida, rasa, com contornos regulares e localizada em vestibular.

A erosão corresponde à perda de substância dentária por dissolução em ácidos de origem não bacteriana. Tem aspécto arredondado, rasa, ampla e sem borda definida. Os ácidos de origem exógena são encontrados nos alimentos, bebidas e medicamentos. Os de origem endógena, são trazidos do estômago (ácido clorídrico) para a boca por um processo denominado regurgitação. A erosão é geralmente generalizada, atingindo muitos ou todos os dentes. Os refrigerantes são um dos principais responsáveis pelas erosões, em geral

contém ácido fosfórico na sua composição (um dos responsáveis pelo sabor característico). Vinhos e frutas cítricas são outra fonte de ácidos na formação de erosões.

O tratamento no caso de abrasões e erosões consiste na conscientização do paciente de sua etiologia (utilização correta da escova, redução de alimentos e bebidas ácidas...) uso de dentifrícios fluorados e não abrasivos e bochechos diários com solução de fluoreto de Na à 0,05% e restaurações da lesão se necessário.

Já a abfração é uma lesão resultante de microfraturas do esmalte, provocados pela flexão do dente, em função de forças oclusais mal dirigidas. A fratura do esmalte se dá na região cervical por ser o local onde o momento flector é máximo, por ser região do dente com menor diâmetro, o que gera concentração de tensões, e ainda por ser a região de menor espessura do esmalte. Estas lesões se apresentam em forma de cunha, geralmente profundas e com margem bem definidas. A maior incidência está nos dentes inferiores e pode estar relacionada ao menor diâmetro coronário em cervical, quando comparado aos superiores. É possível, quando em um dente com abfração que apresenta perda óssea por doença periodontal, que o fulcro dentário se desloque apicalmente, A forma mais simples e eficiente de evitarmos o aparecimento de abfração em pré-molares e molares é montarmos ou criarmos uma eficiente desoclusão em caninos. A restauração só deve ser feita após a remoção do fator desencadeante da lesão.

As modernas resinas compostas (de micropartículas ou híbridas), associadas ao condicionamento ácido total e adesivos hidrofílicos são uma ótima opção para a restauração das lesões cervicais. Também podem ser usados os ionômeros e os compômeros.



MECANISMOS DE HIPERSENSIBILIDADE DENTINÁRIA



A sensibilidade pode ocorrer quando temos túbulos dentinários abertos e expostos ao meio bucal (na presença de um dos tipos de lesões cervicais descritos), e quando um estímulo provoca a movimentação do líquido existente nos túbulos dentinários o que exerce uma pressão sobre as terminações nervosas do plexo subodontoblástico (teoria da Hidrodinâmica – Garberoglio e Brännström).

A movimentação do líquido existente no túbulo dentinário pode se dar por:

- Aplicação de um jato de ar, ou mesmo pela respiração bucal, pois provocaria a evaporação do líquido com conseqüente movimentação.

- Presença de substâncias doces, que por serem hipertônicas, exercem uma pressão osmótica na dentina, movimentando assim o líquido dos túbulos em direção à substância doce.

- Passando a ponta do explorados na lesão cervical, que provocaria a movimentação de fluido, provavelmente por um mecanismo de vibração.

- Variação de temperatura, o que provocaria a contração em caso de frio, ou a expansão em caso de calor, do líquido existente no túbulo, com sua conseqüente movimentação.



DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL



Uma correta anamnese associada a um exame clínico e radiográfico cuidadoso permitem diferenciar a hipersensibilidade dentinária das outras patologias que acometem os dentes.

O teste com estímulo táctil empregando um explorador é simples e preciso ao diagnóstico da hipersensibilidade dentinária em que a dor é provocada, localizada, aguda e de curta duração e desaparece com a remoção do estímulo. A variação do grau de dor pode ser de nula a intensa, dependendo do período considerado.



OUTRAS SITUAÇÕES QUE PODEM APRESENTAR SENSIBILIDADE



- dente fraturado com dentina exposta;

- restaurações antigas com infiltração marginal (fratura marginal da restauração ou do dente)

- restaurações recém feitas (falha da técnica ou contrações do material restaurador em que permanece uma fenda entre a restauração e o dente).



TRATAMENTO



A sensibilidade dentinária pode apresentar cura espontânea, por remineralização pela saliva ou por formação de dentina reacional. Caso isso não ocorra, o tratamento lógico, consiste na obliteração dos túbulos dentinários, pelo emprego de substâncias que reajam com o Ca++ ou o PO4 – existente no líquido dos túbulos, e formem precipitações insolúveis que obliteram o túbulo. Algumas formas que se apresentam são: a utilização de sais de flúor que também pode ser usado na forma de vernizes (ex. : Duraphat), cloreto de estrôncio (ex.: dentifrício Sensodyne), oxalato de potássio (ex.: Oxa-Gel) e até adesivos dentinários. No entanto na presença de uma hipersensibilidade, estes tratamentos não funcionam, pois existe um componente extra, que é uma maior pressão intrapulpar, provocada por algum tipo de sobrecarga oclusal. Essa pressão maior faz com que o líquido se movimente em maior velocidade e assim dificulta a deposição de sais que deveriam obliterar os túbulos. O tratamento indicado então, é a eliminação das interferências oclusais, por um ajuste e/ou a criação de guias caninas inexistentes.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



1. PEREIRA, J. C. Hipersensibilidade Dentinária. Aspectos clínicos e forma de tratamento. Maxi-Odonto: Dentística 1,2:1-24, março/abril, 1995.

2. BARATIERI, L.N. e Colab. Estética. Restaurações adesivas diretas em dentes anteriores fraturados. Quintessence, 1995.

3. BARATIERI, L.N. e Colab. Procedimentos Preventivos e Restauradores. Quintessence, 1995.

4. MONDELI, J. e Colab. Dentística Restauradora. Tratamentos Clínicos Integrados. Quintessence, 1984.

5. TODESCAN, F.F. e BOTTINO, M.A. Atualização na Clínica Odontológica: A prática da clínica geral. Artes Médicas, 1996.



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