quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

A evolução da Odontologia

Nos primórdios da Odontologia e da Medicina, um “bom profissional” era aquele que aliviava a dor.
Assim um “bom dentista” era habilidoso não só ao extrair um dente, mas também no trato com as pessoas ao saber confortar o sofrimento, fosse da dor ou da perda.
Séculos se passaram e ainda não se pode prescindir de tais atributos. Porém, se esses atributos eram suficientes para caracterizar um “bom profissional”, hoje com a evolução científica e tecnológica, principalmente da segunda metade deste século, estabelecer-se como um “bom profissional” tornou-se ainda mais complexo. A exigência das pessoas por qualidade de vida é cada vez maior, isto incluí aspirações de função (inclusive a estética) cada vez maiores e por mais anos - já ultrapassamos totalmente a idéia de que ” 40 anos é a idade da dentadura “.
Além do trabalho técnico da extração ( que deve ir ficando cada vez menos freqüente), existe a necessidade de :
Incorporar toda a tecnologia;
Desenvolver a análise crítica para poder selecionar adequadamente o melhor, entre a infinidade de boas e más ofertas de mercado;
Incorporar o conhecimento cada vez mais apurado em ” diagnóstico”, permitindo o reconhecimento das principais patologias bucais - cáries , doenças periodontais, maloclusões e câncer bucal - em estágios cada vez mais iniciais possibilitando medidas preventivas simples e/ou tratamentos pouco invasivos;
Melhor ainda, permitindo manter o individuo em saúde ou o mais próximo dela possível. Principalmente no mundo desenvolvido, com o aumento da longevidade nas últimas décadas, foi-se sentindo de uma maneira crescente a importância de melhorar a qualidade de vida.
Isso vem se refletindo nos sistemas de saúde melhor organizados, onde a tecnologia de ponta (ao alcance de toda a população), foi-se apoiando cada vez mais numa filosofia preventiva. Essa combinação - prevenção e alta tecnologia - em culturas mais humanísticas (exemplo: Escandinávia, Holanda, Nova Zelândia, Canadá…) tem levado ao desenvolvimento crescente da “promoção de saúde”, que engloba a prevenção, mas já define uma nova etapa na evolução da Medicina e da Odontologia.
Na área odontológica o desafio primeiro esta em como incorporar na prática moderna toda a mudança em curso e seu direcionamento futuro - como fica o relacionamento com os “pacientes” neste enfoque humanístico, valorizando mais a saúde que a atenção à doença e incorporando todo o conhecimento e tecnologia em nível de diagnóstico e de recuperação e/ou manutenção da saúde bucal?
Esse enfoque implica num relacionamento educativo, logo interativo com o individuo (não mais apenas paciente) que nos procuram, para, em conjunto, trabalharmos em sua promoção de saúde. Já está mais que determinado que a grande luta pela longevidade chegou a um ponto que o objetivo está direcionado: não basta acrescentar mais anos à vida - mas sobretudo, mais vida aos anos, onde do ponto de vista do conhecimento científico já é possível “programar” dentes por toda a vida.
Seria esta a perspectiva, que deve nortear um bom profissional neste novo século. O segundo desafio, e talvez o mais difícil, é o de reverter a prática no setor de saúde, porque:
1. Esta prática, embora dita de saúde, é essencialmente de atenção à doença;
2. Exercício Médico/Odontológico está cada vez mais regido por administradores dos sistemas de seguros e convênios, que na maioria dos casos, estão apenas comprometidos com as operações financeiras de repasse/cobertura dos gastos de conveniados/segurados com atos de atenção à doença e a saúde financeira e não a das pessoas;
3. Os profissionais que seriam por formação, os compromissados com a qualidade dos serviços e com a promoção de saúde/qualidade de vida estão cada vez mais sujeitos a regras de mercado e à quantidade de atos praticados.
Avaliações por resultados - saúde bucal, qualidade de serviços - praticamente não são consideradas. Esse sistema de exercício profissional torna-se “perverso” pois : a intermediação da relação profissional/paciente cria uma desvinculação entre ambos e uma despersonalização dos serviços.
Seguros e convênios administrando o dinheiro e intermediando o repasse, não estão diretamente comprometidos com a saúde, tendendo a avaliar os serviços pela “performance” financeira da pessoa jurídica e pela quantidade dos serviços às pessoas físicas. Isso implica num pagamento o menor possível aos profissionais, a uma exigência crescente de produção como se saúde pudesse ser enfocada assim) e a criação de barreiras para que os usuários se sirvam o mínimo possível. Concluindo, de um lado o conhecimento científico atual odontológico avançou tanto que em mais de 90% das situações este já é suficiente para se atingir a meta de “dentes por toda à vida”, com qualidade ou seja, boa função : mastigação/deglutição/fonação/estética.
Do outro lado, encontra-se o sistema predominantemente perverso do exercício, que a medida que se desenvolve, torna-se mais poderoso e fora do controle dos profissionais responsáveis pela prestação direta dos serviços.
Essas duas análises definem o paradoxo atual entre as possibilidades fantásticas do campo do conhecimento para a saúde e um exercício regido por outros interesses que na medida que venham se solidificando criam um distanciamento cada vez maior dos objetivos de saúde.
Para que esse paradoxo possa ser desfeito, a iniciativa só pode partir de profissionais prestadores diretos de atendimentos, comprometidos com os ideais de saúde na qualidade de vida.









"O pessimista vê a dificuldade em cada oportunidade; o otimista vê a oportunidade em cada dificuldade"

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