INTROCUÇÃO
O
uso cada vez mais freqüente de mecânicas de deslizamento tornou o controle do
atrito em Ortodontia uma das principais preocupações para o sucesso do
tratamento planejado. O atrito pode ser definido como uma força que se opõe ou
retarda a movimentação de dois corpos que se encontram em contato.
Diferentemente do uso de alças, onde o atrito gerado é mínimo, o deslizamento
responde por considerável quantidade de fricção na interface braquete/fio
ortodôntico, sendo a dinâmica deste binômio essencial para o estabelecimento da
movimentação ortodôntica. Diversas indicações são atribuídas à mecânica de
deslizamento, tais como casos de fechamento de espaços, além da translação e
retração de elementos para ocupação de áreas de extração.
O
conceito de braquetes autoligáveis surgiu em 1935 com o advento do sistema
Russell Lock. A partir desta data, já era preconizado um sistema que
viabilizasse a otimização do tempo de atendimento e uma maior facilidade de
união do sistema braquete/fio ortodôntico, com a menor quantidade de atrito
possível. A retenção do arco no interior da ranhura do braquete era obtida
através de um sistema mecânico ajustado na superfície vestibular do artefato,
funcionando como uma quarta parede da ranhura. O padrão de autoligação foi
seguido e aprimorado por Wildman em 1972 com o sistema Edgelok. Hanson, em
1975, combinou o Sistema Edgewise preconizado por Angle com conceitos pessoais,
desenvolvendo um aparato helicoidal autoajustável único, capaz de reter o arco
e transmitir ao mesmo algum grau de ativação. Apresentava, porém, algumas
limitações inerentes à capacidade de distensão do sistema de molas segundo o
qual a resposta da interação fio/braquete subordinava-se ao calibre do fio ortodôntico
empregado.
Diversos
outros tipos de braquetes autoligáveis foram idealizados, com variações de
forma, tamanho, mecânica e material. Todavia estes artefatos, apesar de sua
considerável capacidade de diminuição do atrito, nunca se difundiram de maneira
permanente no cotidiano ortodôntico. O alto custo e a inicial fragilidade
apresentada por este sistema foram os principais responsáveis pela não
ratificação do mesmo.
Após
o ano de 2000, com o surgimento de braquetes autoligáveis de menores dimensões,
maior robustez e praticidade de manipulação, estes artefatos tornaram-se
interessantes ao uso diário do ortodontista. Hoje, Os braquetes
autoligados têm sido apresentados como um diferencial para o ortodontista
clínico que procura se desdobrar na tentativa de oferecer um tratamento de
excelência no menor tempo possível e com número mínimo de consultas.
O sistema de braquetes autoligáveis
O
sistema autoligável difere dos demais pela logística mecânica presente em sua
ranhura, que responde pela permanência do fio ortodôntico em seu interior. Pode
ser observada a existência de uma cobertura metálica de material semelhante ao
empregado na manufatura do braquete. Esta cobertura sofre encaixe na abertura
da ranhura, funcionando como uma quarta parede do mesmo e transformando-o à
semelhança do que seria um tubo ortodôntico (Fotos 1 e 2) . Este sistema
observado em diversosdispositivos (Tab. 1) segue a metodologia idealizada pelo
modelo Russel Lock.
O
outro modelo autoligável existente caracteriza-se como transcorrendo do padrão
desenvolvido por Hanson4, em 1975, (Tab. 1), ancorando-se na existência de uma
mola de material resiliente,que garante a reclusão do fio ortodôntico no
interior da ranhura dos braquetes. Todavia, o resultado desta interação está
subordinado ao calibre do fio empregado. Este sistema originou a logística em uso
conhecida como spring clip ou sistema ativo
resiliente.
Por
ser a união do binômio braquete/fio ortodôntico realizada através do
dispositivo mecânico de autoligação, inúmeras vantagens foram atribuídas à
logística apresentada por esse tipo de artefato. Dentre elas, pode-se citar a
maior facilidade e rapidez no momento de associação do fio à ranhura do
braquete, um menor tempo de cadeira por atendimento e de tratamento, maior conforto
e maior facilidade de higienização por parte do paciente, a diminuição das
chances de quebra da cadeia de biossegurança e de infecções cruzadas pelo fato
de ser empregada uma quantidade menor de instrumentais6 e a manutenção de força
de aumento da fricção superficial apresentada por este tipo de material. Este
aumento refere-se às possíveis elevações da rugosidade e do coeficiente de
atrito apresentado pelos polímeros resinosos.
Foto 01 |
Foto 02 |
A preocupação com a obtenção de
baixa fricção colaborou para a revolução que os bráquetes auto-ligados vêm
causando na Ortodontia. Inúmeros trabalhos têm demonstrado a grande redução no
atrito estático e dinâmico que os bráquetes auto-ligados representam, quando
comparados a bráquetes convencionais presos com ligaduras metálicas e/ou
elásticas.
O bráquete auto-ligado consiste
em um sistema livre de ligadura, com um dispositivo acoplado ao bráquete para
providenciar o fechamento da canaleta, que pode ser através de um clip ativo
(sistema ativo) ou através de uma trava que desliza à frente das aletas,
transformando os bráquetes em tubos (sistema passivo). Ambos produzem atrito
menor quando comparados aos bráquetes convencionais e são semelhantes no início
do tratamento, quando há grande desnivelamento e deflexões dos fios, porém, na
mecânica de deslize, ao final do nivelamento, os bráquetes passivos têm
denotado melhor comportamento.
A
sequência de fotos abaixo mostra um caso tratado com o sistema de aparelho
autoligável. As três linhas demonstram o estágio antes do tratamento, algum
tempo após a instalação do aparelho e o resultado final. Este tratamento
ocorreu em 14 meses e 2 semanas, e foram necessárias 7 consultas ao
ortodontista.
Caso
tratado: de cima para baixo, fotos pré-tratamento, durante o tratamento e após
a remoção do aparelho. De acordo com o fabricante, o tratamento durou 14 meses
e 2 semanas (7 consultas).
SEQÜÊNCIA
DE FIOS
O nivelamento com fios termoativados de baixo calibre, .013”, ou .014” que asseguram a menor força possível, já que o sistema com baixa fricção permite essa possibilidade. Deixa-se em posição até que a maioria do alinhamento tenha sido realizado. Depois se passa para um retangular também termoativado e só depois se inicia com os fios de aço inoxidável.
A seqüência de arcos recomendada para ser utilizada nas fases de alinhamento, nivelamento, fechamento de espaço, detalhes e acabamento são:
• Alinhamento
Arco .014” Nitinol Clássico ou .014” Nitinol Supereslástico Arco .016” Nitinol Clássico ou .016” Nitinol Supereslástico Arco .017” x .025” Nitinol Clássico ou .017” x .025” Nitinol Superelástico
• Nivelamento
Arco .019” x .025” Nitinol clássico ou .019” x .025” Nitinol Superelástico
• Fechamento de espaço
Arco .019” x .025” Aço Inoxidável
• Detalhes e acabamento
Arco .019” x .025” Braided
“Uma boa opção para efetuar o alinhamento e o nivelamento é a utilização do fio redondo .014” nitinol juntamente com o fio redondo .016” em uma só sessão. O aparelho SmartClip permite a utilização de dois fios possibilitando uma correção do alinhamento e o nivelamento com eficiência e mais rápido”, garante Trevisi.
O nivelamento com fios termoativados de baixo calibre, .013”, ou .014” que asseguram a menor força possível, já que o sistema com baixa fricção permite essa possibilidade. Deixa-se em posição até que a maioria do alinhamento tenha sido realizado. Depois se passa para um retangular também termoativado e só depois se inicia com os fios de aço inoxidável.
A seqüência de arcos recomendada para ser utilizada nas fases de alinhamento, nivelamento, fechamento de espaço, detalhes e acabamento são:
• Alinhamento
Arco .014” Nitinol Clássico ou .014” Nitinol Supereslástico Arco .016” Nitinol Clássico ou .016” Nitinol Supereslástico Arco .017” x .025” Nitinol Clássico ou .017” x .025” Nitinol Superelástico
• Nivelamento
Arco .019” x .025” Nitinol clássico ou .019” x .025” Nitinol Superelástico
• Fechamento de espaço
Arco .019” x .025” Aço Inoxidável
• Detalhes e acabamento
Arco .019” x .025” Braided
“Uma boa opção para efetuar o alinhamento e o nivelamento é a utilização do fio redondo .014” nitinol juntamente com o fio redondo .016” em uma só sessão. O aparelho SmartClip permite a utilização de dois fios possibilitando uma correção do alinhamento e o nivelamento com eficiência e mais rápido”, garante Trevisi.
A ausência de ligaduras,
principalmente elásticas, confere queda no atrito e, portanto, na resistência à
movimentação, permitindo a utilização de forças de menor intensidade, mais
compatíveis com a resposta periodontal de remodelação óssea, gerando menores
áreas de hialinização e promovendo movimentações mais rápidas e eficientes.
Os
aparelhos autoligados parecem assim tão eficientes porque não necessitam de
ligaduras elásticas ou metálicas. Isso diminui o atrito entre o fio e o bracket enormemente,
permitindo a aplicação de forças super leves, o que é ideal para uma excelente
movimentação ortodôntica, além de trazer mais conforto ao paciente. O mecanismo
também diminui o número de consultas necessárias, uma vez que devemos deixar o
aparelho “trabalhar” de forma mais contínua. As consultas também são mais
rápidas, devido à facilidade em se trocar os fios.
Sendo assim,o sistema de
bráquetes auto-ligados vem trazer uma nova perspectiva na Ortodontia, assim
como foram os bráquetes totalmente programados, conferindo um novo marco na
Ortodontia neste início do século XXI. Estas modificações podem ser resumidas
em 5 regras básicas que incluem:
1)Emprego de fios de
níquel-titânio termo-ativados;
2)Emprego de fios de baixo calibre nas fases iniciais do nivelamento;
3)Aumento nos intervalos de consulta e troca dos fios;
4)Mecânicas de deslize com molas de níquel-titânio;
2)Emprego de fios de baixo calibre nas fases iniciais do nivelamento;
3)Aumento nos intervalos de consulta e troca dos fios;
4)Mecânicas de deslize com molas de níquel-titânio;
5)Diagnóstico baseado na análise
facial.
A
maior desvantagem ainda reside no custo, bem mais alto que os aparelhos
convencionais, e, além disso, ainda se faz necessário mais estudos clínicos
para avaliarmos sua eficiência.
CONCLUSÕES:
A introdução dos bráquetes
auto-ligados na Ortodontia constitui uma nova revolução no tratamento, uma vez
que possibilitam a aplicação de forças suaves, mais compatíveis com a força
ótima aceita, pela redução significativa do atrito causado pelo contato do fio
com o bráquete. Algumas modificações nos procedimentos clínicos na mecânica
Straight-Wire favorecem a simplificação do tratamento e o aproveitamento pleno
de todas as vantagens que esses aparelhos oferecem, que reflete em menor tempo
de tratamento, maior conforto ao paciente e maior eficiência na movimentação
dentária.
Malgrado
exposto, há
necessidade de novos estudos para avaliar o efeito promovido pela técnica dos
braquetes autoligáveis. A falta de mais evidências científicas não nos permite
apenas contemplar os resultados estéticos. Dessa forma, abraçar o uso dos braquetes
autoligados de maneira intempestiva não parece ser a melhor conduta, pois mais
estudos com amostras clínicas selecionadas aleatoriamente precisam ser realizados.
Esses estudos deveriam abordar a mecânica, bem como as vantagens e
desvantagens, de cada sistema, comparando-os entre si e com os braquetes
convencionais. Em especial, ainda necessita- se avaliar a estabilidade dos
tratamentos com uso de braquetes autoligados, a longo prazo, pois não existe
mudança de paradigmas sem evidências científicas.
REFERENCIAS:
LENZA,
Marcos A.. Braquetes autoligáveis: futuro da Ortodontia?. Rev. Dent. Press Ortodon. Ortop.
Facial,
Maringá, v. 13, n. 6, Dec. 2008 .
Vittorio Cacciafesta ET AL, Avaliação do atrito de braquetes de
aço inoxidável e estéticos auto-ligados em diversas combinações de braquete-fio.
Dental Press. Maringá, març0 2006.
CASTRO,
Renata. Braquetes autoligados: eficiência x evidências científicas. Rev. Dent. Press Ortodon. Ortop.
Facial,
Maringá, v. 14, n. 4, Aug. 2009 .
FERNANDES,
Daniel J. et al . A estética no sistema de braquetes autoligáveis. Rev. Dent. Press Ortodon. Ortop.
Facial, Maringá,
v. 13, n. 3, June 2008 .
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