Além da alimentação saudável, da prática regular de exercícios físicos e de boas noites de sono, a mulher deve ficar atenta à saúde bucal durante a gravidez. O consumo de cigarros e álcool, a carência nutricional, a exposição a poluentes, as febres altas e as doenças na gestação podem colocar a formação de dentes do bebê em risco.
“Frequentemente, as alterações relacionadas à saúde bucal das crianças, inclusive dentes mal-formados e esmalte hipomineralizados, tiveram origem na gravidez. A formação e mineralização dos dentes do bebê têm início na vida intrauterina. Cabe ressaltar que muitas dessas condições desfavoráveis podem ser prevenidas, orientando os pais”, diz a cirurgiã-dentista Flávia Konishi, coordenadora do curso de Especialização em Odontopediatria da APCD Regional Araraquara. Mestre e doutora em Odontopediatria pela Unesp, ela vai falar sobre o tema no CIOSP 2013, a ser realizado pela APCD, entre 31 de janeiro e 03 de fevereiro, no Expo Center Norte, em São Paulo.
A professora Flávia lembra, ainda, a existência de estudos em vários países que associam a doença periodontal da mãe a partos prematuros e crianças com baixo peso – menos de 2,5 quilos. Os pesquisadores advertem que os microorganismos responsáveis pelos problemas periodontais da gestante podem entrar na corrente sanguínea, alcançar a placenta e o líquido amniótico, com risco de antecipar o nascimento.
O estudo pioneiro neste sentido foi realizado em 1996, pelo norte-americano Steven Offenbacher, diretor do departamento de Periodontia da Escola de Odontologia da University of North Carolina, nos Estados Unidos. De acordo com esse trabalho, as mães com doença periodontal apresentaram risco 7,5 vezes maior de nascimentos prematuros com bebês de baixo peso do que as mães sem problemas gengivais.
Pré-natal odontológico
Para beneficiar a saúde do bebê, a gestante deve fazer o pré-natal odontológico, quando receberá orientações sobre o controle da placa bacteriana (hoje chamada de biofilme dentário), por meio da escovação correta, do uso do fio dental e uso adequado do flúor. Caso seja necessário também pode se submeter a tratamento dentário.
Durante o pré-natal, os pais podem receber informações sobre os cuidados com a saúde bucal do bebê, sobretudo, sobre os hábitos. Uma medida importante é evitar a transmissão da cárie do adulto à criança, principalmente quando ela ainda não possui anticorpos contra essa doença, o que ocorre entre os seis meses a quatro anos. “O contágio pode ocorrer quando os pais dão beijo tipo “selinho”, compartilham talheres com a criança ou assopram a sopinha”, explica a cirurgiã-dentista.
A higiene bucal do bebê é outra orientação fundamental do pré-natal. “A criança que já tem dente, já tem placa bacteriana”, afirma a professora Flávia. Ela se diz preocupada com o fato de ter de fazer tratamento de canal em crianças de “um ano, um ano e meio e dois anos”. Nesses casos, segunda ela, “faltam escovação e fio dental e sobram doces na alimentação e, sobretudo, educação dos pais sobre saúde bucal’
A professora Flávia ensina que as bactérias presentes no biofilme dentário transformam o açúcar dos alimentos em ácidos, que desmineralizam o esmalte dos dentes (removem os minerais, principalmente o cálcio). A saliva tem a capacidade de controlar esses micro-organismo e remineralizar o esmalte do dente.
À noite, a produção de saliva cai e os dentes ficam desmineralizados. “As crianças pequenas que passam por tratamentos muito invasivos são, geralmente, aquelas que dormiram com a mamadeira com açúcar ou achocolatados”, diz a cirurgiã-dentista.
Ao falar sobre a Odontologia Intrauterina, a professora Flávia aproveita para esclarecer alguns mitos existentes em relação ao tratamento dentário de mulheres durante a gestação. Confira três deles:
A gravidez provoca a perda de dentes e cálcio da mulher.
Mito. A mulher não perde o cálcio dos dentes para formar a estrutura mineralizada do bebê. Geralmente, os problemas odontológicos ocorrem por higiene bucal inadequada, hábitos alimentares prejudiciais (consumo excessivo de doces) e falta dos cuidados odontológicos.
Gestante não pode receber anestesia ao fazer o tratamento odontológico.
Mito. As gestantes saudáveis podem ser anestesiadas e até as gestantes de risco – como as hipertensas e cardiopatas – podem receber anestesia local, embora, o contato com o médico responsável seja necessário, visando avaliar o risco/benefício e determinar a solução anestésica mais apropriada para cada caso.
O tratamento odontológico na gravidez pode prejudicar a mãe e o feto.
Mito. O risco do procedimento a ser realizado é menor do que o decorrente dos problemas bucais não tratados, como, por exemplo, o surgimento de infecções.
Fonte: Assessoria de Imprensa CIOSP